27 de janeiro de 2009

L, de L.A.M.B.

Celebrity Fragrance - L, de L.A.M.B.


Eu sempre gostei de Gwen Stefani - seja em solo, com os "old fellas" do No Doubt, ou acompanhada pelas saltitantes Harajuku girls. Gwen sempre consegue imprimir a "sassy attitude", pelo seu universo colorido e pela mistura de glamour antigo e modernidade urbana.

Quando Miss Stefani lançou seu primeiro perfume no ano de 2007, em parceria com o gigante Coty, eu esperava algo original. Comercial (afinal, o que esperar de Coty?), mas uma fragrância que entrasse em harmonia com sua linha de roupas, L.A.M.B. (iniciais de Love, Angel, Music, Baby), no mercado desde 2004 - algo jovem e vibrante, com uma faceta inconvencional.

Tão logo a fragrância aterrissou nas prateleiras das lojas americanas, apressei-me em pedir a uma amiga que me enviasse um estojo de eau-de-toilette e loção corporal, sem nem ao menos tê-la testado. Quando recebi a encomenda, imediatamente abri o pacote, e um odor muito familiar chegou às minhas narinas.

A nota principal foi pêra, seguida quase imediatamente por uma onda de pêssegos. Um toque de almíscar veio logo depois, e... mais nada. A sensação de familiaridade era cada vez maior. E então, finalmente a luz... Maybe Baby!! Os que conhecem a fragrância da marca americana Benefit, lançada em 2003, podem atestar a similaridade. Testei ambas, uma em cada braço, e a semelhança é inegável.

Um pouco mais de ousadia da parte de Harry Fremont*, perfumista responsável por L. de L.A.M.B, e criador de três perfumes ganhadores de FiFi Awards, seria bem-vinda, bem como o mínimo de originalidade. Porém, não tenho como negar que gosto de L, da mesma maneira que gosto de Maybe Baby.

A grande diferença entre as fragrâncias é a nota secundária de damasco para Maybe Baby, enquanto a pêra é a co-estrela de L. O pêssego é presente em ambas, bem como o fundo almiscarado. Outro ponto divergente é o poder de fixação - L. vencendo implacavelmente Maybe Baby nesse quesito. No entanto, o resultado final é extremamente parecido.

Prestando mais atenção, pude sentir uma nota de freesia, e um certo toque de jasmim, rosas e jacinto. Um aroma jovem, fresco e controladamente doce, que parece visar uma faixa etária na casa dos 20.

Deixo, entretanto, meu ponto positivo para L. Ponto positivo pelo caráter bem-humorado e descomplicado da fragrância, que, nesse lado, reflete a personalidade de Gwen. Outro ponto positivo para o frasco, com suas cores de inspiração rasta. No mais, um grande uuuu no setor originalidade. Seria demais pedir um pouco de diferenciação? A resposta é maybe, baby!



* Fifi Awards - O oscar da perfumaria. Premiação anual que visa recompensar os melhores lançamentos em várias modalidades. Três dos perfumes criados por Harry Fremont foram vencedores de FiFis, sendo: Juicy Couture (em 2007), Kenneth Cole Black (prêmio de melhor fragrância luxo masculina, em 2004) e Vera Wang (melhor fragrância feminina "nouveau niche", em 2003).

Ilustrações ~ à direita - Twins - calendário vintage
~ à esquerda -
Gwen Stefani - imagem de publicidade de L., by L.A.M.B.



23 de janeiro de 2009

Bate-papo com Liz Zorn



Bate-papo com Liz Zorn


Liz Zorn é, na minha opinião, uma das grandes damas da perfumaria natural. Desenvolvendo suas fragrâncias com uma sensibilidade especial, Liz consegue unir as características das antigas usagens e elaborações da perfumaria francesa , com a essência da perfumaria natural moderna.

Essa artista multimídia - cantora, compositora, poeta e pintora, teve seus trabalhos expostos em galerias, museus e centros de arte, nos Estados Unidos e também na Europa. Em 2002, Liz resolveu concentrar sua energia artística na criação de perfumes, e lançou Liz Zorn Perfumes em 2003. A loja virtual foi aberta em 2005, e a marca Soivohle' veio integrar a família em 2008. Atualmente, Liz Zorn Perfumes conhece um sucesso crescente, com fragrâncias como a extremamente bem elaborada Grand Canyon, a delicada Waterflower, ou a misteriosa Underworld.

Apesar de ter sua biografia citada nas listas "Who's Who in America" e "Who's Who of American Woman", Liz é de uma simplicidade e de uma gentileza tocantes. E é com grande prazer que eu a trago ao Perfumes & Etc para um bate-papo perfumado.


Perfumes & Etc - Liz, fale-nos um pouco sobre você. Quem é Liz Zorn?
Liz Zorn - A resposta curta seria que Liz Zorn é um indivíduo com uma grande paixão pela vida, família, animais e seu trabalho. Para elaborar, eu diria que sou algumas vezes uma perfeccionista, e em outras não. Uma incorrigível observadora curiosa. Eu concluo que isso é mais um contra do que um pró. Os prós, eu ainda estou tentando entendê-los.

Perfumes & Etc - Como nasceu a idéia de Liz Zorn perfumes?
Liz Zorn - Liz Zorn perfumes foi mais uma evolução que uma idéia. Meu interesse em perfumaria data de muito anos, ainda que eu não o tenha seguido que em 2002, quando procurava por uma mudança drástica na minha carreira. Tendo sido uma artista visual minha vida inteira, não existia espaço para uma segunda carreira ou mesmo um hobby. Sendo assim, eu parei de pintar (a tempo integral) e mudei minha direção para a perfumaria. Criando minha própria linha, e emergindo na linguagem dos aromas. Eu tenho avançado rapidamente, desde então.

Perfumes & Etc - Qual é a fragrância Liz Zorn mais vendida?
Liz Zorn - Underworld é a mais vendida atualmente. É um perfume natural. Não uma fragrância fácil, mas muito intensa, balsâmica, rascante, terrestre. É certamente um perfume a ser apreciado pelo hábito. E eu estou deliciada que algumas pessoas a entendam, a ponto de falar dela. A lista de best-sellers muda freqüentemente Alguém escreve uma review sobre uma fragrância, e ela venderá bem por um tempo, então outra fragrância entra no circuito...

Perfumes & Etc - O que faz uma boa fragrância?
Liz Zorn - Uma boa fragrância pode ser definida de várias maneiras. Mas, eu acho que a forma principal para definir uma boa fragrância, é quando o perfumista cria o que ela/ele se propôs a criar. Quando essa imagem mental está em alinhamento com o resultado final. Pode-se desenvolver toda a parte técnica e/ou filosófica do processo, mas eu creio que, no fim das contas, a perfumaria é uma forma de arte. O que pode ser trivial, também. Entretanto, essa não é a razão pela qual eu faço perfumes. Um bom perfume, é aquele que, depois de todo o trabalho feito, satisfaz ou ultrapassa as minhas expectativas.

Perfumes & Etc - Agora conte-nos como é possuir a sua própria linha de fragrâncias.
Liz Zorn - Como eu disse antes, eu parei de pintar para dedicar-me a perfumaria. Eu já tinha feito muitas fragrâncias, e desenvolvido os perfumes com os quais lancei o negócio. Eu selecionei, entre eles, os meus favoritos pessoais, e reformulei-os para uma audiência maior. Eu não estava preparada para a rapidez como tudo aconteceu. E, de muitas maneiras, nós tivemos que aprender as coisas, a medida que elas fossem avançando. Eu comecei com uma simples missão estabelecida - Fazer um trabalho bom e honesto, e não crescer além do ponto que eu pudesse pessoalmente controlar. Ser verdadeira ao espírito artesanal, no que se aplica à perfumaria. Tudo é tratado e engarrafado manualmente. O que não é diferente para mim, se eu estivesse no meu studio, aplicando tinta na tela. O artista, o verdadeiro artista é sempre muito "mão na massa". Eu acho que isso é uma forma de controle - artistas precisam ter o controle total de suas criações. Outramente, nós nos deixamos submergir.

Perfumes & Etc - Quais sãos os seus planos futuros para Liz Zorn perfumes?
Liz Zorn - Meus planos futuros são continuar no caminho que eu tracei. Afinar as minhas idéias e crescer firmemente, de uma forma que eu possa controlar. Eu pretendo expandir nossa "Natural Selections", e provavelmente escrever um livro que integre outras facetas de meu trabalho à perfumaria. Arte, poesia e perfumes. Eu sou muito otimista em relação ao futuro, de forma que o meu nível de energia é alto, e as idéias continuam surgindo. O futuro... É um bom lugar para estar.



Liz Zorn Perfumes - http://www.lizzorn.com/


Ilustrações - Fotos ultilizadas com a permissão de Liz Zorn. Reprodução proibida.



21 de janeiro de 2009

Rose d'été


Rose d'été


Em 1988, Les Parfums de Rosine lançou Rose d'été, procurando recriar o tema do verão em um perfume de rosas amarelas. O perfumista François Robert foi extremamente bem-sucedido ao unir frescor e luminosidade a mais uma criação dessa marca mítica.

Rosas amarelas são geralmente associadas a alegria e amizade. E é justamente esse o espírito captado em Rose d'éte - felicidade, leveza, simpatia e liberdade.

As rosas unem-se harmoniosamente à maçã, resultando em uma nota doce, que faz-me pensar no odor de um melão maduro. Porém, graças à bergamota, Rose d'été foge da doçura extrema de um floral-frutal comum. A tília e a mimosa impõem a suavidade, e a flor-de-lotus contribui com um certo caráter aquoso. A junção do ambrete com o almíscar dá a profundidade ao conjunto, fechando a sinfonia.

A grande qualidade da fragrância é a não estereotipação da flor. Fragrâncias de rosas são ligadas a romantismo, e um certo saudosimo, o que não é o caso aqui. Rose d'éte brinca com uma faceta radiosa e borbulhante, traduzindo juventude e alegria. Perfeitamente adequada a uma garden party ou a um casamento matinal, seu aroma lembra-me um imenso céu azul sobre um jardim aberto. A imagem perfeita de um belo dia de verão.


Ilustração à direita - "Le Déjeuner des Canotiers", de Auguste Renoir (1880-81)


19 de janeiro de 2009

Child Perfume


Child Perfume



Em 1988, Susie Diane Owens, antiga enfermeira obstétrica e Playmate do mês de março, começou a criar misturas aromáticas com óleos na Star Wind, boutique esotérica de uma amiga, na Califórnia. No ano de 1989, Susie desenvolveu a fragrância Child, após inúmeros testes na própria pele.

Um ano depois, Mrs. Owens, devidamente rebatizada Susan D. Owens, decidiu comercializar sua criação, que resultou num enorme sucesso de vendas. Logo, várias celebridades tornaram-se adeptas da fragrância, um "must have" em Hollywood. Dizem que Vince Vaughn, quando ainda namorava Jennifer Aniston, encomendou 10 frascos de uma edição limitada, para serem oferecidos à sua amada. Entre Denise Richards, Tori Spelling, Sigourney Weaver, Mandy Moore, passando pela turbulenta Paris Hilton, a socialite Tiffany Amber Thiessen, e mesmo Madonna, vários são os nomes famosos constando na lista de clientes de Susan D. Owens.

Child é uma fragrância simples e descomplicada, e eu, apesar de consumidora habitual, admiro-me um pouco do sucesso estrondoso. Apesar do nome, o perfume não tem nada de infantil, e traduz basicamente o aroma do Pikake (jasmim Havaiano). Um pouco de madressilva e gardênia também estão presentes, mas a trama gira principalmente em torno do Pikake.

Eu já ouvi diversas comparações com outra fragrância que uso, a bela Kai, porém não consigo traçar grandes paralelos entre ambas. Resumindo, Kai é uma gardênia fresca, com toques verdes, enquanto Child é Pikake, mais "cremosa" e intensa. Os únicos pontos comuns são: ambas as fragrâncias foram desenvolvidas inicialmente em forma de óleo/roll-on, e ambas têm uma aura definitivamente tropical. Se eu tivesse que comparar Child a uma outra fragrância comercializada atualmente, essa não seria Kai, mas Pikake, da coleção Island Escapes, da marca Terranova.

Atualmente declinada em roll-on, loção corporal, sabonete líquido e edições limitadas em perfume/spray, Child encanta por por sua simplicidade, o que faz do perfume uma opção perfeita para o uso em diversas ocasiões e climas.



Ilustrações ~ primeira à direita - Vintage child
~ à esquerda - Victorian children - cartão-postal vintage
~ segunda à direita - Pikake flor




16 de janeiro de 2009

Bate-papo com Symine Salimpour



Bate-papo com Symine Salimpour


Hors Là Monde é uma joalheria fundada em 2005 pela advogada francesa Symine Salimpour. Após trabalhar para o renomado joalheiro H. Stern, o que permitiu o desenvolvimento de um grande amor pela indústria, veio a inspiração para o lançamento de sua própria marca nos Estados Unidos. E assim nasceu "Hors Là Monde".

Desfrutando de um grande sucesso, Symine decidiu expandir sua linha de produtos com a eau-de-parfum Shiloh ("seu presente", em hebraico), elaborada pelo celebre perfumista Michel Roudnitska. Agora Hors Là Monde chega com uma nova fragrância, Lady Shiloh, criada em colaboração com um time de perfumistas de Grasse.

Nós convidamos Symine para falar um pouco sobre Hors Là Monde e Lady Shiloh.


Perfumes & Etc - Fale-nos sobre Hors Là Monde e sua linha de fragrâncias.
Symine - Após a escola de Direito, eu viajei e tornou-se óbvio para mim que, uma outra maneira de defender idéias é promovendo-as através da arte.

Nós trabalhamos dias e noites, procurando por palavras que fizessem as pessoas se sentirem confortáveis, que fossem como uma ponte entre os povos. O nome da marca tornou-se Hors Là Monde, o que significa "Em algum lugar fora desse mundo", em francês.

Nosso logo, um compasso, é a nossa maneira de dizer que as diferenças e valores comuns podem co-existir em paz.
A nossa linha é composta de fragrâncias que capturam a essência dessa idéia, fazendo-a acessível para aqueles que procuram compartilhar sua beleza.


Perfumes & Etc - Qual o conceito de Lady Shiloh?
Symine - Nossa última criação, Lady Shiloh, foi gerada em torno da idéia de ilusão do tempo. Essa idéia não é tão nova assim, e nós a devemos a Albert Einstein. Porém, quem não sonhou em parar o tempo por um momento, um dia em sua vida? Eu senti-me assim diversas vezes, e creio que o fato de criar fragrâncias ajudou-me a dar aos momentos importantes passados a intensidade do tempo presente. Procurando pela fórmula que iria parar o tempo e colocá-lo dentro de uma garrafa...Esse foi o sonho por trás de Lady Shiloh.

Eu cheguei a conclusão que a melhor forma de criar algum tipo de eternidade era viver os momentos com amor pleno, com a compreensão que tudo pode acabar no minuto seguinte... Entendendo, entretanto, que esses momentos podem ser compartilhados eternamente.


"Amar como se não houvesse amanhã, como se fosse para sempre - nossa maneira de tornar o instante em eternidade" - assim é como vejo Lady Shiloh.

Colaborando com grandes perfumistas de Grasse, nós procuramos pela fragrância que seria a incarnação desse forte desejo. Uma mistura mágica foi feita com a bergamota e a tangerina, para a leveza, um pouco de jasmim Indiano e violeta atalcada para a suavidade, um toque de óleo de patchuli, almíscar branco e vetiver para sempre lembrar... Lady Shiloh.



Perfumes & Etc - Para quem se destina essa fragrância?
Symine - Eu diria... para o cidadão do mundo.


Perfumes & Etc - O que você acha que faz um bom perfume?
Symine - Paixão.


Perfumes & Etc - Uma questão final - Você tem planos de exportar as fragrâncias Hors Là Monde para o Brazil?
Symine - Nós estamos em São Paulo, na "Surface To Air"*, e planejamos nos expandir. Seria maravilhoso! Muito obrigada!


Perfumes & Etc - Nós é que agradecemos pela fabulosa entrevista, Symine.


*Surface To Air - Alameda Lorena, 1989 - Jardins
São Paulo - Brasil
tel. +5511 3063 4206

Shiloh Perfume - www.shilohperfume.com


Ilustrações - Fotos utilizadas com a autorização de Symine Salimpour. Reprodução proibida.


Kai

Kai


Gaye Straza Rappaport queria elaborar uma fragrância que traduzisse o aroma das inúmeras férias que tinha passado, desde pequena, no Havaí. E assim nasceu Kai, que significa "oceano" na língua havaiana.

Kai foi lançada em 1998, e comercializada exclusivamente na boutique de Gaye, em Malibu, Califórnia. Posteriormente, a boutique foi vendida, mas os pedidos para a re-introdução da fragrância foram tantos, que Mrs. Rappaport resolveu dedicar-se inteiramente à sua produção.

Apesar do nome, que evoca um tema marítimo, Kai não tem nenhuma nota oceânica. A grande estrela da fragrância é a gardênia, mas notas de lírio e jasmim também podem ser sentidas. O pepino une-se às flores brancas, acrescentando um toque de leveza e frescor. A particularidade desse floral branco é justamente o equilíbrio entre frescor e uma certa aura de luxúria, proveniente da gardênia

Kai é atualmente declinada em óleo/ roll-on (fórmula original), eau-de-parfum spray, gomagem, manteiga corporal, body mist, loção corporal, sabonete líquido, e maravilhosas velas aromatizadas.

Eu testei as versões óleo e eau-de-parfum, além da loção corporal. A eau-de-parfum é um pouco mais leve e etérea, e as notas de pepino parecem ser mais presentes. A versão óleo é mais herbácea, envelopada e doce. Em ambos os casos, um leve efeito sillage (rastro de perfume que paira no ar) é garantido, e o poder de fixação, excelente.

Kai conta com várias celebridades entre seus admiradores. De Charlize Theron a Debra Messing, passando por Julia Roberts, Kate Bosworth, Naomi Watts, Reese Witherspoon e Oprah Winfrey, inúmeras foram as personalidades que sucumbiram a esse delicioso floral.


Ilustrações - cartões- postais "vintage"


13 de janeiro de 2009

Le Maroc Pour Elle


Le Maroc Pour Elle


Andy Tauer é o novo enfant terrible da perfumaria moderna. Esse perfumista Suiço-Alemão, nascido em 1964, tem feito unanimidade graças à originalidade de suas criações, comercializadas no seu próprio website, e distribuídas em algumas boutiques Italianas, Suíças, Alemãs e Americanas.

As duas primeiras fragrâncias da marca foram inspiradas nas visitas de Tauer a um amigo, que morava no Marrocos. A primeira, "Le Maroc pour Elle", foi lançada em janeiro de 2005, e conheceu um sucesso relativo. No entanto, foi a segunda criação da série, "L'Air du Desert Marocain", que elevou Mr. Tauer ao rang de little darling da perfumaria. Quando o Emperor of Scent, Luca Turin himself, declarou que havia escolhido usar "L'Air du Desert Marocain" no dia de seu casamento, o alvoroço foi geral, e todo mundo quis saber quem era Andy Tauer.

Le "Maroc pour Elle" gira em torno dos dois símbolos máximos da feminilidade Marroquina - o jasmim e a rosa. Todo o caráter voluptuoso das duas flores míticas é aqui presente. A rosa faz a grande abertura, seguida quase imediatamente por uma nota de jasmim doce e cremosa. Durante todo o desenvolvimento da fragrância, a rosa e o jasmim estão presentes, mostrando porém, diferentes facetas olfativas. Suave, devido às notas de lavanda; doce, graças à mandarina; e forte e animalesca, pela junção do cedro, do sândalo e do patchuli, no fundo.

Entre as duas criações tendo o Marrocos como tema, "Le Maroc pour Elle", é, na minha opinião, a mais bem-sucedida ao representar o país. O odor dos souks* marroquinos é perfeitamente incarnado, e a fragrância consegue transportar-me ao Marrocos, e, mais propriamente a Marrakech, a cidade ocre, aos vales secretos do sul Marroquino, a El-Kalaa M'gouna , com sua festa das rosas ( 2 a 4 de maio).

Como todas as fragrâncias de Tauer, "Le Maroc pour Elle" tem um poder de fixação considerável. Entretanto, a maior atração dessa eau-de-parfum é a união entre o romantismo da rosa e do jasmim, com o toque de exotismo Magrebino, o que faz da mesma um bilhete de viagem garantido a essa terra de diversos sabores, cores e aromas.


*souk - Souk (ou souq) - quarteirão comercial ou feira semanal de uma cidade Árabe ou Bárbara (Berbère)

Ilustrações ~ primeira à direita - Danse aux mouchoirs, de Théodore Chassériau
~à esquerda - Mellah de Fes, la place du Commerce, de Henry Pontoy (1888-1968)
~ segunda à direita - Danseuse orientale, de Edouard Richter



11 de janeiro de 2009

Summer Hill



Crabtree & Evelyn - Summer Hill


Os verões ingleses são notoriamente mornos e úmidos, o que intensifica o odor dos magníficos e sempre presentes jardins. Cada cidade, pequena ou grande, tem seu próprio jardim público, ornado com coloridas flores. Em cada propriedade, o visitante pode ser lembrado do passado histórico da construção, pelo exame de seus parques. O sol brilhante, o céu azul e a temperatura clemente, possibilitam longas caminhadas pelos aromáticos campos.

E foi o clima poético de um perfeito dia de verão nos campos Ingleses, que a marca Crabtree & Evelyn tentou resgatar, ao criar Summer Hill. A melodia das cigarras, o aroma das flores silvestres, e os gramados verdes iluminados pelos vaga-lumes no crepúsculo - todos os elementos que compõe o cenário mágico do verão Inglês, foram capturados nessa criação de 1991.

A delicadeza do pêssego abre a bela sinfonia, trazendo um caráter solar e alegre. A junção da freesia com as flores silvestres, concede um romantismo às notas frutais, e o toque de lírio-do-campo faz-me pensar em uma leve brisa nos jardins ensolarados. A tuberosa fecha o conjunto, deixando um rastro de feminilidade. O resultado é um floral branco leve e muito bem composto, que realmente consegue projetar-me a um verão idílico.

O estilo country-casual da embalagem é encantador, e os tons de amarelo com os leves toques azuis da caixa, incarnam perfeitamente o estilo decorativo de uma residência de verão Inglesa.

Declinada em eau-de-toilette, sachets perfumados, loção corporal, gel para banho, fragrância para a casa, creme para as mãos, e um deliciosa bruma corporal, Summer Hill é a opção perfeita para um mágico verão, numa atmosfera de romance de Jane Austen.


Ilustrações - à direita - Potting Table, de Dwayne Warwick
~ à esquerda - Garden Pathway, de Dwayne Warwick

8 de janeiro de 2009

Clean Provence



Clean Provence



Provence é uma região da França que engloba as colinas que ligam o mar às montanhas dos Alpes. Suas vinhas e paisagens coloridas encantaram Cézanne (Aix en Provence), Van Gogh (Arles), Chagall, entre outros. Terra de Fernandel e Pagnol, a Provence fascina pelo cenário mágico do caminho da lavanda, e mostra todo o seu esplendor durante o verão, quando a região festeja sua flor fetiche.

Randi Shinder, fundadora de Clean, seguiu o conceito básico da linha, criando mais uma fragrância que evoca o "aroma de limpeza", traduzido pelo odor do sabonete. Porém, aqui a inspiração foi a atmosfera ensolarada e bucólica, com o odor de roupas récem-lavadas pelo sabão de Provence, secando ao ar livre.

Com notas de limão provençal, flor de algodão, rosa gerânio, almíscar violeta e limão galego, essa eau de parfum vence o desafio de capturar o cenário local, e é uma das minhas fragrâncias prediletas da linha Clean. A lavanda não está listada entre os componentes oficiais, mas eu sinto suas leves notas, o que transporta-me diretamente aos verões da bela região francesa.

O aroma é delicadamente original, e, apesar de não ter um poder de fixação considerável, consegue projetar-me a uma das telas de Cézanne, o que compensa largamente as duas horas de permanência na minha pele. Posso quase sentir a brisa fresca no ar quente banhado pelo odor da lavanda, e visualizar as roupas ainda úmidas, espalhando o perfume do sabão provençal a cada movimento do varal, com as águas plácidas do Rhône (Ródano), ao fundo.


Ilustrações - à direita ~ Paul Cézanne - Vue sur l'Estaque (1878)
~à esquerda - Van Gogh - Entrada do Jardim Público de Arles (1888)



7 de janeiro de 2009

Sampaquita


Ormonde Jayne - Sampaquita


Sampaguita é a designação Filipina para o Jasminum sambac, também conhecido como Jasmim das Arábias, flor provavelmente originária da Índia.

Diz a lenda, que o guerreiro Lakam Galing antes de partir ao combate, a fim de defender suas terras, despediu-se de seu grande amor, a bela Lakambini. Ambos pronunciaram as palavras “Sumpa kita”, termo que significa "eu prometo", expressando o sentimento que os unia. Lakam Galing não sobreviveu à batalha, e Lakambini morreu de tristeza logo apos. Em pouco tempo, pequenas flores brancas, com um forte e adocicado odor, começaram a nascer na tumba de Lakambini, simbolizando o amor profundo e puro que a mesma nutria a Lakam Galing.

Em Fevereiro de 1934, o então Governador-geral Frank Murphy, declarou que a sampaguita seria o símbolo nacional das Filipinas, por sua popularidade e valor simbólico nas lendas locais.

Em 2004 , a marca Inglesa Ormonde Jayne lançou uma magistral interpretação da flor. As notas adocicadas de lychee são temperadas pelo frescor da bergamota e a leveza da magnólia. A sampaguita chega depois, impondo um certo "ar de verão" ao conjunto, devidamente realçado pela fragilidade do lírios d'água e do vale. A junção das notas de freesia e rosas complementam esse belo bouquet solar, concedendo uma feminilidade original. O fundo de almíscar, vetiver, musgo e semente de ambrette, dão a profundidade necessária.

Normalmente fragrâncias florais-tropicais pecam pelo exagero, porém a criadora, Linda Pilkington, soube magnificamente dosar originalidade e suavidade. E é justamente a união entre esses dois fatores, e o equilíbrio entre opulência e romantismo, que são as grandes atrações da fragrância, fazendo de Sampaquita uma das mais belas escolhas para o verão.


Ilustrações ~ à direita - Tampuhan, do pintor Filipino Juan Luna (1895)
~à esquerda - Sampaguita flor



2 de janeiro de 2009

Heliotrope

Etro - Heliotrope


Diz a lenda que Orchamus, rei da Babilônia e das províncias da Achemenia, tinha duas filhas, a romântica Clytie e a deslumbrante Leukothoe.
Clytie tomou-se de amores pelo deus do sol, Hélios (citado também como Apolo), que, momentaneamente retribuiu os sentimentos da jovem. Porém, apos algum tempo, Hélios sucumbiu à beleza de Leukothoe, e apaixonou-se pela bela princesa.

Clytie, louca de ciúme e tristeza, contou a Orchamus sobre os embates amorosos de sua irmã e Hélios. O poderoso rei da Babilônia, sentindo-se desonrado, ordenou que a pobre Leukothoe fosse queimada viva, sentença que foi executada imediatamente. Clytie, tomada pelo remorso, refugiou-se na floresta por nove dias, fazendo nada mais do que acompanhar a trajetória solar, e finalmente transformou-se em heliotrópio, a flor da devoção, que tem a face sempre voltada para o sol, e um odor ligeiramente abaunilhado.

Heliotrope, da marca Italiana Etro, capta a doçura do heliotrópio, sendo muito mais alegre que a lenda. O odor inicial lembra fortemente uma mistura de amêndoas a um toque de cerejas, num fundo levemente atalcado. O conjunto assemelha-se ao odor do marzipã, e a personalidade da fragrância é divertida, e, ao menos no meu caso, transmite um certo clima de felicidade gourmande.

As notas oficiais dessa colônia lançada em 1989, são: flor-de-laranjeira, bergamota, petigrain (abertura), íris, jasmim, heliotrópio , ylang-ylang e rosas (corpo), numa base de bálsamos tolu e do Peru, cumaru (tonka bean), almíscar e baunilha. Apesar do vasto leque de componentes, eu não consigo sentir nada além de amêndoas, heliotrópio, baunilha e um pouco de almíscar no fundo.

Heliotrope traduz perfeitamente a mistura entre a personalidade solar e exuberante de Hélios, nas notas amendoadas, e o romantismo cotemplativo e intimista de Clytie, no fundo almiscarado. Eu nunca entendi como uma flor poeticamente alegre, como o heliotrópio, é ligada a uma lenda tão triste como a de Clytie. Talvez a explicação venha do fato de que a bela princesa tenha finalmente encontrado a felicidade, ao acompanhar diariamente a trajetória do seu amado deus do Sol, e ter inspirado uma fragrância como Heliotrope, de Etro.


PS - Algumas versões da lenda apontam Clytie como uma ninfa marinha, filha de Oceanus e Thetys, e indicam o girasol, e não o heliotrópio, como produto de sua transformação.


Ilustrações - primeira à direita - Clytie ( 1895-1896), de Frederick Leighton
~ à esquerda - "Clytie changée en tournesol par Apollon" (1688), de Charles La Fosse (1636 - 1716)

~segunda à direita - heliotrópio flor


LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin