27 de agosto de 2009

Cheiro de limpeza


Cheiro de limpeza



Há dias em que determinados aromas parecem ser sobressalentes demais, e tudo o que desejamos é uma fragrância que evoque limpeza. Seja sugerindo o frescor da pele saída do banho ou da roupa recém-lavada, secando no varal, tais perfumes são escolhas perfeitas para ambientes de trabalho, ou dias mais quentes.

Sendo assim, aqui vai uma seleção de algumas das melhores fragrâncias a serem usadas quando tudo o que queremos é o reconforto de sentirmo-nos limpos - imaculadamente limpos.



Pegue o sabonete...


- Pure Soap, de Demeter - Demeter é conhecida por reproduzir quase fielmente os mais diversos aromas. Dessa vez, a marca de origem canadense investiu-se em recriar o odor de sabonete, no que foi extremamente bem-sucedida.


- Ivory Soap, de Cleanse your Soul - Ivory Soap é o produto mais antigo de Procter & Gamble. Comercializado desde 1879, Ivory permanece um dos sabonetes mais populares nos Estados Unidos. O pequeno etailer Cleanse Your Soul captou magistralmente a essência do clássico americano, comercializando-o nas mais diversas formas (body lotion, perfume roll-on, entre outras).


- Dove of Peace, de Bathed & Infused - Dove é mais floral e suave do que o potente e cítrico Ivory, mas igualmente eficaz quando o assunto é representar o aroma de limpeza em nossos subconscientes. Dove of Peace é a reprodução aproximada desse top-seller mundial.


- Marsiglia, de I Profumi di Firenze - Marseille é uma cidade francesa conhecida por sua beleza, seu porto comercial, e seus tradicionais sabões feitos com óleos vegetais. I Profumi di Firenze apostou na fidelidade absoluta ao produzir uma eau de parfum que considero como a mais perfeita interpretação do sabão marselhês.


- Pure, de Mark - Preço imbatível para a criação de Mark, subsidiária de Avon. Uma fragrância bem executada, que parece inspirar-se levemente na pureza do sabonete Ivory. Considerável poder de fixação e excelente relação custo/benefício.


- Bath, de Bobbi Brown - Néroli, jacinto aquático, flor de laranjeira, lírios brancos, sage aromática, sândalo e patchuli recriam o aroma da pele saída do banho. Uma opção mais luminosa e delicada entre os "soapy scents".



Saídos da lavanderia


- Clean Fresh Laundry, de Dlish - Seguindo o conceito básico da linha, Clean inova com mais uma variação do "aroma de limpeza", fazendo pensar, dessa vez, em amaciante de têxteis.


- Laundromat, de Demeter - Demeter ataca novamente, aventurando-se em uma interpretação olfativa do sabão em pó para roupas. O resultado é muito menos excêntrico e mais agradável do que a descrição deixa a entender.



- Body, de Victoria's Secret - Body é um floral almiscarado que supostamente copia o aroma do antigo sabão líquido para roupas de Victoria's Secret. A pele como extensão do odor de lingerie limpa? Not a bad idea!



Celebrity Clean


- Glow - Dizem as más-línguas que Miss Lopez, quando era somente Jenny from the Block (ou from the Bronx), costumava usar Rain, de Terranova. Ao lançar sua primeira fragrância, J.Lo. parece ter rendido homenagem ao perfume dos velhos tempos, criando algo muito similar, com uma carga adicional de almíscar . O resultado foi Glow, uma eau de toilette que, graças ao balanço especial entre flor de laranjeira, íris e almíscar, deixa uma sillage fresca e delicada, evocando os efeitos de um banho bem tomado.


Secando no varal


- Clean Provence, de Dlish - Clean Provence foi inspirado na região de Fernandel e Pagnol, com sua paisagem ensolarada, e o odor de roupas recém-lavadas pelo sabão de Provence, secando ao ar livre. Um toque de lavanda contribui com um aspecto de serenidade, que diferencia Clean Provence das demais criações de Dlish.

- Washed Cotton, de GAP - Washed Cotton lembra o odor de peças de algodão limpas. A mesma sensação que temos ao encostar o rosto em lençóis saídos do varal e ainda quentes do sol, foi aqui transposta. O preço democrático permite um prazer sem culpa.

- Sea Island Cotton, de Body & Bath Works - Reformulação (com mínimas variações) do antigo sucesso de Body & Bath Works, Cotton Blosson.


- Warm Cotton, de Clean - A mesma idéia de Washed Cotton desenvolvida por Dlish. O equivalente olfativo de uma T-Shirt retirada a pouco do secador de roupas.



Brisa Fresca


- Pure Grace, de Philosophy - Um pouco de matemática: Pure Grace = Ivory soap + Beach, de Bobbi Brown. Continuando: Pure Grace = Clean Ultimate = Carrière (com maior poder de fixação) = Gendarme (tirando-se uma imperceptível nota de lilás no precedente).

- Gendarme, de Gendarme - Originalmente destinada ao sexo masculino, mas adaptável ao uso feminino, essa combinação de limão, verbena, jasmim, tomilho e couro (em pouquíssima quantidade) fez furor em Hollywood. De Sharon Stone a Brooke Shields, passando por Tom Cruise e Dustin Hoffman, muitas são as personalidades que optam pela neutralidade de Gendarme. Somando-se a elas, dois ex-presidentes, Clinton e Bush.

- Carrière, de Gendarme - Divulgado como a versão feminina de Gendarme, porém, a meu ver, perfeitamente unissex, e não tão diferente do original. Extremamente parecido com Pure Grace, distinguindo-se por um poder de fixação maior.


Chic & Clean


- Muschio Oro, de Santa Maria Novella - Almíscar dourado e rosas atuam em um balanço perfeito para criar o mais elaborado dos "soapy scents".


- Musc
Bleu, de Il Profumo - Aura elegante e sillage modesta são as características dessa adorável fragrância à base de almíscar e acordos florais.





Ilustrações ~ ao alto - publicidade vintage do sabonete Ivory, de Procter & Gamble
~ direita e esquerda - acompanhando as fragrâncias citadas



23 de agosto de 2009

Just Cavalli Pink


Just Cavalli Pink



Autora: Cris Sampaio


Há tempos eu buscava um perfume dotado de uma nota de pêssego aveludada que não fosse doce demais, obviamente sintética, nem lembrasse shampoo ou algum cosmético. Já havia sentido vários, sem êxito na busca, até que conheci Just Cavalli Pink - mais uma obra do expert Olivier Cresp, autor de sucessos como Amarige, Angel, Kenzo Amour, Midnight Poison, entre tantos outros.

No momento em que coloquei-o na pele, senti o aroma que almejava, e lembrei do "pêssego de veludo", como chamava na infância essa fruta que adoro - um aroma mais "rascante", como um espumante de pêssegos. Sua saída frutal vem acompanhada do cheiro dos hibiscos e lírios, e, até no coração, distingo a nota do sumo da fruta. Em sua evolução, percebo o frescor do rosa acompanhado do almíscar doce que perdura até o fim, conferindo um ar levemente atalcado. Seu drydown tem um amadeirado macio, suavizado pelo âmbar. Assim que adquiri o meu, escolhi um dia lindo e coloquei para a comprovação de tudo que tinha achado com a amostra. A fixação é muito boa para uma fragrância que não é densa e tem apelo frutal. Just Cavalli Pink entrou para minha coleção como um dos indispensáveis.

Roberto Cavalli apostou em uma propaganda bem jovial no lançamento conjunto do Blue, masculino, e do Pink. Na foto da publicidade, ao fundo, vemos as praias de Ipanema e Leblon. Uma homenagem ao Brasil, e mais precisamente ao Rio de Janeiro, onde o estilista tem um público fiel. Impossível não lembrar da música de Tom e Vinícius que saiu de uma mesa de bar, em 1962, direto para o mundo, marcando uma geração. Essa homenagem, originalmente destinada a Helô Pinheiro, estende-se a Vera Fischer e a todas as mulheres brasileiras. Uma canção que poderia mesmo ser de Naomi Campbell, que adotou a cidade como seu segundo lar.

Garota de Ipanema, cantada até por Sinatra, imortalizou o local para sempre. Um bairro mágico que virou cartão postal do Brasil, abrigando tanto um espaço de abundante exuberância natural, quanto um charmoso pólo de grifes de alta-costura, com a paisagem que delineia as curvas da mulher.

Just Cavalli Pink é, sem dúvida, um perfume com a cara do Rio. Uma fragrância que condiz com o jeito espontâneo do seu povo, seu estilo descontraído, casual, naturalmente elegante e alegre. Um perfume que soube atingir não apenas os jovens de idade, mas os jovens de espírito.



Garota de Ipanema - Letra: Tom Jobim e Vinícius de Moraes / Intérprete: Frank Sinatra
(clique na seta para ouvir a canção)






Ilustrações ~ ao alto - Imagem de campanha de Just Cavalli Pink e Blue
~ à direita - Vista diurna de Ipanema
~ à esquerda - The Girl from Ipanema - crédito: armandfrasco.typepad.com





Cris Sampaio


Apresentando a autora convidada - Cris Sampaio



Eu escrevo para compartilhar idéias e dividir uma paixão. Não é segredo que adoro partilhar as minhas impressões sobre perfumes, falando também sobre tópicos de meu interesse.

Através do Perfumes & Etc pude conhecer pessoas maravilhosas com interesses similares e visões diversas. E é essa diversidade nas percepções pessoais que faz os relacionamentos serem tão interessantes. Durante meus bate-papos perfumados, senti a necessidade de trazer um outro ponto de vista para o blog, e convidei uma dessas pessoas, minha amiga Cris, para fazer parte do nosso cotidiano.

Cris Sampaio é uma mulher de sensibilidade intensa e interesses diversos. Poetisa, grande amante de literatura, ex-campeã carioca de dardos e antiga campeã nacional na categoria duplas, essa ariana determinada brilha em vários campos.

Oriunda de uma família de apaixonados por fragrâncias, Cris viu-se desde cedo imersa no mundo dos aromas. Aos treze anos, começou a sua coleção de perfumes importados, incentivada pela mãe e pelas tias. À medida que o tempo passava, seu interesse aumentava, bem como a busca pelo conhecimento. Sentindo a necessidade de expandir suas esferas de ação, começou a atuar como escritora convidada em blogs, e participar em comunidades dedicadas ao assunto.

Uma nova visão, um outro estilo literário e uma abordagem diferenciada serão as contribuições de Cris Sampaio ao Perfumes & Etc - Um blog que, com muito orgulho, apresenta sua autora convidada.



Ilustração ~ foto de Cris Sampaio - Reprodução proibida



18 de agosto de 2009

Somers


Somers


Celebrando os 400 anos de colonização britânica nas Bermudas (28 de julho), Lili Bermuda lançou três fragrâncias, cada qual narrando um determinado período histórico do local. A primeira, Somers, é uma homenagem a Sir George Somers, colonizador que integrou as Bermudas ao domínio inglês.

O personagem - George Somers veio ao mundo no dia 24 de abril de 1554, na pequena cidade histórica de Lyme Regis, em Dorset, Inglaterra. Desde pequeno, o filho de John e Alice Somers era conhecido por sua energia e determinação. Graças a uma bem-sucedida carreira na marinha mercante, aos 33 anos de idade, George conseguiu comprar Berne Manor, em Whitchurch Canonicorum, perto de sua cidade natal. Na bela residência, instalou-se com sua esposa, Joanne Heywood (ou Hayward).

Aos 41 anos, George tomou parte na expedição comandada por Sir Amyas Preston contra a armada espanhola. Aos 46 anos, comandou o HMS Vanguard, e no ano posterior, ajudou a repelir uma tentativa de invasão espanhola na Irlanda, a bordo do HMS Swiftsure. Por todas essas proezas, Somers foi condecorado pelo rei James I, da Inglaterra (e VI, da Escócia), tornando-se membro do Parlamento, representando sua cidade e o distrito de Lyme Regis.

Em 1609, George Somers foi nomeado Almirante da frota Third Supply Relief Fleet, da Companhia da Virgínia, do qual foi membro fundador. A Companhia da Virgínia era então considerada a maior, mais cara e mais ambiciosa expedição colonial de todos os tempos, sendo financiada por mercadores Londrinos e nobres. A bordo do Sea Venture, o barco que liderava a expedição, Somers partiu em direção a Virgínia, com a finalidade de levar novos colonizadores e suprimentos para o local. No dia 25 de julho, devido a um furacão, o navio separou-se do resto da fragata, lutando durante 3 dias contra as ondas violentas. Com o casco seriamente danificado, a embarcação começou a encher-se de água. Decidido a salvar os 150 membros de sua tripulação, Somers desvia o navio de seu destino original, dirigindo-o às costas de "Virgineola", terras assim batizadas como tributo a "rainha virgem", Elizabeth I. Sendo o novo rei James I, filho de Mary Stuart (presa e assassinada a mando de Elizabeth I), um nome mais diplomático impunha-se. As ilhas foram então rebatizadas Somers Isles, ainda hoje um nome alternativo a Bermudas.

Sete dos nove navios do Third Supply Relief Fleet alcançaram a Virgínia em Agosto de 1609. Acreditou-se que o destino do Sea Venture tenha sido igual ao do The Catch, que, atingido pela tempestade, afundou no mar. George Somers e os 150 tripulantes foram considerados mortos. Enquanto isso, Somers e Thomas Gates dedicam-se a construção de 2 navios, aproveitando a madeira do Sea Venture, além do cedro local. Em maio de 1610, o Deliverance e o Patience partiram com destino a Virgínia, carregando suprimentos e 142 tripulantes, deixando para trás as 42 semanas passadas nas Bermudas. Na chegada, quatorze dias depois, Somers encontrou a colônia inglesa praticamente destruída pela miséria e pela fome, visto que poucas provisões do Third Supply Relief Fleet foram recebidas. Dos 214 colonizadores, apenas 60 sobreviveram. Felizmente, o Patience e o Deliverance contavam com uma quantidade de suprimentos suficiente para aguardar a chegada de um novo carregamento.

George Somers decide partir para as Bermudas a bordo do Patience, a fim de reabastecer-se. Entretanto, adoecendo repentinamente, Somers falece em 9 de Novembro de 1610, na terra que aprendeu a amar. Seu corpo foi levado para Lyme Regis, mas o coração foi enterrado em Somers Garden, nas Bermudas.

O perfume - Somers é uma fragrância cheia de contrastes. Tal e qual o seu personagem inspirador, que era descrito por escritores contemporâneos como "uma ovelha na terra e um leão no mar", Somers, o perfume, brinca com o dualismo entre aventura e diferenciação.

Eu imaginava um aroma marinho, algo que gritasse alto e forte sua masculinidade. Porém, Somers surpreendeu-me, inovando desde a sua abertura.

As notas de bergamota e pamplemousse anunciam um frescor, que mostra-se etéreo, com a entrada em força do impertinente alcaçuz. Toda a doçura desse último é controlada pelo cedro das Bermudas, que dá um toque amadeirado ao conjunto. O cominho chega logo depois, bem como a noz-moscada, o coentro e o gengibre. O que poderia ser uma efusão de exuberância, com a junção de tantas especiarias, é suavizado pela flor de laranjeira e pelo gerânio. A casca de oliveira e o vetiver chegam por último. Enquanto um dos elementos parece querer adicionar profundidade, o outro impõe leveza. O potente alcaçuz perde enfim o seu poder, e a fragrância atinge uma harmonia final.

O caráter aventureiro e desbravador de George Somers está presente na luminosidade das notas cítricas. A inovação e originalidade do homem que construiu dois navios novos com a carcaça de um outro, mostra-se no alcaçuz, que contribui com uma doçura inabitual a um perfume masculino dedicado a um personagem do século XVII. O exotismo das Bermudas é traduzido pelas especiarias.

Como dizia anteriormente, eu esperava um aroma marinho, e até um pouco taciturno. E admirei-me com uma fragrância jovem, ousada e controladamente doce. Um perfume surpreendente... Como George Somers.




Sugestão de Leitura:

Sir George Somers: A Man and His Times
Autor: David F. Raine







Ilustrações ~ primeira à direita - Almirante
Sir George Somers - Pintura a óleo do artista holandês Paul van Somer, datada do século XVII.
~ primeira à esquerda - Lyme Regis, cidade natal de George Somers, crédito: historic-uk.com
~ segunda à direita - "Sea Venture in the Storm," de William Harrington
~ segunda à esquerda - Fragrance Library, de Lili Bermuda





11 de agosto de 2009

Lili Bermuda


Lili Bermuda / Bermuda Perfumery


As Bermudas são um local mágico, aonde lendas integram-se a paisagem, banhadas pela música das ondas do oceano Atlântico. Descoberto em 1503, pelo explorador espanhol Juan de Bermúdez, o território das Bermudas é composto de 138 ilhas, e considerado o mais antigo e populoso domínio Britânico. Pouco após o descobrimento, navios espanhóis e portugueses costumavam fazer paradas, a fim de acumular provisões de água e alimentos.

Em 1609, uma frota inglesa sob o comando do Almirante Sir George Somers viajava em direção a Jamestown. Atingida por uma tempestade de 3 dias, a frota foi destruída e o navio principal, o Sea Venture, acabou chegando às Bermudas, deixando os sobreviventes em possessão do novo território, reivindicado posteriormente pela coroa inglesa. Em 1610, a maioria dos sobreviventes do desastre marítimo continuaram a viagem a Jamestown a bordo de dois navios recém-construídos, o Patience e o Deliverance. Entre eles, John Rolfe, que deixou sua filha enterrada nas Bermudas. Tragicamente, sua esposa faleceu pouco depois da chegada a Jamestown. John Rolfe ficou famoso por seu segundo casamento, com a princesa indígena Pocahontas (Matoaka Powhatan). Acredita-se que a história do Sea Venture tenha inspirado a obra de Shakespeare, "The Tempest" (A Tempestade).

Conhecida como the "Isle of Devils", St. George foi estabelecida em 1612 como primeira capital. E é neste cenário bucólico, que instalou-se uma charmosa perfumaria. Em 1929, William Blackburn Smith uniu-se a sua filha, Madeline Scott, para criar Bermuda Perfumery & Gardens. Na época, as Bermudas eram um dos maiores exportadores de bulbos do lírio de Bermuda, sendo as flores jogadas ao mar. William e Madeline consideraram aproveitá-las, usando-as para a criação de um perfume, e, para tal, fizeram apelo a um profissional de Grasse (França). Nasce a primeira fragrância da marca, Easter Lily.

As Bermudas tornaram-se uma destinação popular entre abastados turistas americanos, canadenses e britânicos, e, mesmo durante a Segunda Grande Guerra, o território continuou a prosperar, servindo de instalação de bases militares americanas. Com o final da guerra, o turismo floresceu e a pequena perfumaria tornou-se atração. A plantação particular de Bermuda Perfumery & Gardens começou a fornecer lírios de Bermuda para a rainha-mãe, além de enfeitar a igreja Holy Trinity nas sextas-feiras santas, fazendo parte do folclore local.

Em 2004, a família Brackstone adquiriu Bermuda Perfumery, mudando-a para o histórico Stewart Hall, no coração de St. George, patrimônio mundial da UNESCO. David Botello, perfumista da firma há 43 anos, assegura-se da preservação das tradições na manufatura das fragrâncias. Perfumes de qualidade desenvolvidos entre a mágica e o mistério das Bermudas, com suas longas praias de areia cor-de-rosa, estórias de fantasmas e naufrágios. Como resistir?






Ilustrações ~ à direita - “The Wreck of The Sea Venture in Bermuda” de Christopher M. Grimes
~ à esquerda - Bermuda Perfumery. Crédito: Jennifer - travbuddy.com



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9 de agosto de 2009

Magnolia Nobile


Magnolia Nobile


Poucas são as marcas que conseguem imprimir uma coerência olfativa, mantendo a diferenciação de estilos de suas criações. Acqua di Parma é uma delas. Da distinção clássica e andrógina de Colonia, a feminilidade tórrida de Profumo, passando pela elegância de Iris Nobile e pela descontração da linha Blu Mediterraneo, cada fragrância apresenta uma qualidade de refinamento atemporal.

Acqua di Parma também é uma das raras marcas que despertavam-me a vontade de adicionar a integridade de seus lançamentos à minha coleção. Sendo assim, o amigo leitor pode calcular a animação com que fui testar o novo bebê da maison milanesa.

Magnolia Nobile foi desenvolvida por Antoine Maisondieu, o "pai" de Paul Smith Rose, Giorgio Armani Code masculino, e boa parte das fragrâncias de Etat Libre d'Orange. Como diz o nome, o nouveau née de Acqua di Parma é centrado na magnólia, flor que representa dignidade e perseverança.

A equação onde toda a mítica de Acqua di Parma era somada ao talento de Antoine Maisondieu e a riqueza da magnólia, indicava a garantia de sucesso absoluto. E qual não foi a minha decepção ao ver que a objetividade matemática não condiz com a subjetividade do mundo dos aromas.

A abertura de Magnolia Nobile é definitivamente cítrica, com a bergamota e o limão brigando pelo lugar de honra. A magnólia insinua-se ao fundo, tímida e humilde, perdendo toda a exuberância em prol das notas cítricas. Cada um dos componentes é privado de suas melhores características nesta fase. O limão e a bergamota não transmitem uma faceta fresca e limpa, e a magnólia não brilha pelo aspecto cremoso e envolvente. Ao contrário, a abertura é genérica e insossa, lembrando-me algo que poderia ser uma edição variante de Pleasures, de Estée Lauder.

A rosa chega aos poucos, e, ao menos no segundo ato, Antoine Maisondieu merece aplausos por fazer com que duas flores poderosas atuem como simples atrizes coadjuvantes. A rosa serve de perfeito suporte a magnólia, auxiliada pelo jasmim. A presença de ambas é pouco sentida, fazendo sobressair uma certa opulência, e minimizando a aura ordinária do início. Um quase imperceptível toque de baunilha "esquenta" o conjunto, como que tentando reproduzir a bela união floral/baunilha, vista em Iris Nobile. Enfim, a magnólia reina.

Entretanto, esta fase dura pouco, e um retrocesso faz-se notar. O vetiver entra bruscamente e toda a magia é quebrada pelo aroma cítrico e rascante. Tive então a nítida impressão de regressar ao primeiro estágio da fragrância, que voltou a ser genérica e absurdamente comum.

Toda a experiência durou exatas duas horas, tempo de permanência da eau de parfum na minha pele. Graças a um generoso decant, pude repeti-la 4 vezes (7 sprays cada), obtendo sempre o mesmo resultado. Contudo, talvez o fraco poder de fixação tenha sido algo positivo. Afinal, nada é mais enfadonho do que perseverar em uma decepção.



Ilustrações ~ à direita - cartão postal vintage
~ à esquerda - Hark! A Vagrant, de Kate Beaton




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