31 de março de 2009

I Profumi di Firenze


I Profumi di Firenze


Durante a inundação de boa parte de Florença, provocada pela enchente do Rio Arno, em 1966, o apotecário Giovanni di Massimo descobriu as receitas do famoso perfume secreto de Catherine de Medici (nascida em Florença, em 13 de abril de 1519 - morta em 1589, no Château de Blois), bem como outras fórmulas da rainha.

O endereço de sua loja, atingida pela inundação, foi sempre o local de comércio de perfumes e instalação de apotecários, desde a Idade Média. Na Renascença, o palácio dos Medici era localizado no quarteirão, e os membros da famosa família encomendavam fragrâncias no local onde presentemente situa-se I Profumi di Firenze. Durante o processo de remoção das águas, os manuscritos contendo as fórmulas pessoais de Catherine, bem como de vários membros da nobreza da época, foram achados. Golpe de sorte para Massimo!

A arte da perfumaria prosperou na Renascença Italiana, e Catherine de Medici foi conhecida por introduzir na França o refinamento italiano, chegando mesmo a ter um perfumista particular. De certa forma, a infame rainha da França (por seu casamento com Henry d'Orléans, mais tarde Henry II), considerada uma das instigadoras do terrível Massacre de São Bartolomeu, foi também a grande responsável pelo então recém adquirido status de seu país de adoção, como centro europeu de manufactura de cosméticos e perfumes.

Atualmente, I Profumi di Firenze propõe novas formulações, agradando aos mais diversos gostos, enquanto conserva a aura mágica de apotecário florentino.


I Profumi di Firenze - Via Vacchereccia, 9-red
I-50122 Firenze (Toscane)
055 2396055‎


Ilustrações ~ à esquerda - pintura/ilustração do site de I Profumi di Firenze (também tema das caixas/embalagens da marca)
~ à direita - Catherine de Medici, por François Clouet (1555)




29 de março de 2009

Marco Sabino





Bate-papo com Marco Sabino


Marco Sabino é uma figura mítica da moda Brasileira. Esse premiado estilista, formado pelo famoso Studio Berçot, tem encantado o país, desde seu début na criação de bijuterias e acessórios, em 1980, passando pela fantástica contribuição a diversos jornais e revistas com artigos sobre moda e comportamento, além do sucesso de suas coleções.

Eterno estudioso de costumes, Marco lançou em 2006 o Dicionário da Moda , considerada uma das obras mais completas sobre a indumentária. Resultado de uma extensiva pesquisa, o livro, que reúne mais de 1300 verbetes, é uma fonte de conhecimento para todos aqueles ansiosos em navegar pelo envolvente mundo da moda. E é com imenso prazer que acolhemos aqui no Perfumes & Etc, um dos personagens-chave desse universo mágico.


Perfumes & etc - Marco, qual é a sua relação com os perfumes?
Marco Sabino - Perfumes sempre me trazem lembranças, me fazem viajar no tempo, resgatar momentos...

Perfumes & etc - Agora, conte-nos um pouco sobre os seus gostos pessoais. Quais são as suas fragrâncias prediletas?
Marco Sabino - O primeiro perfume que usei foi Lancaster, ainda nos anos 60, depois Vitess, Pinho Silvestre, Brut de Fabergé, Pub, Lacoste, Monsieur de Givenchy, Rastro, YSL, Patchouli indiano, Polo de Ralph Lauren, English Fern da Penhaligon’s, Eau d’Hadrien de Annick Goutal (que conheci pessoalmente), Mûre et Musc do L’Artisan Parfumeur, Lavanda Johnson’s e Rastro novamente.

Perfumes & etc- Há uma certa tendência atual de perfumaria confidencial, dita de "niche", onde os perfumistas usam materiais de qualidade superior, e buscam a diferenciação. Você poderia traçar um paralelo dessa tendência em termos de moda?
Marco Sabino - A perfumaria de “niche” é relacionada à exclusividade, ao luxo, à importância e valorização da qualidade, um não à massificação e um sim ao personalizado. Está englobada num processo cíclico dos hábitos de consumo. A moda também tem abordado este retorno à exclusividade e o mundo está repleto de “personal services”. A moda colocou em evidência o vintage e tenta resgatar o personalizado, as profissões e hábitos comuns do passado como ter seu próprio alfaiate, camiseiro, costureiro ou sapateiro. Faz parte do movimento que denota saturação e da necessidade de renovação das vontades.

Perfumes & etc- O que você acha que falta atualmente na indústria Brasileira de perfumaria?
Marco Sabino - Eu uso Rastro, pois prefiro águas de colônias aos perfumes atualmente. Mas acho que infelizmente seu aroma não perdura, não passando de um momento que, aliás, aprecio muito. Gosto de vaporizar minha roupa de cama e travesseiros com Rastro ou lavandas. O efeito me calma. Eu não conheço muito os perfumes nacionais, mas como já disse, gosto muito das lavandas e alfazemas. Como sabonete, e só como sabonete, gosto do Acqua Fresca do Boticário.


Perfumes & etc- Como você poderia definir uma pessoa bem perfumada?
Marco Sabino - Não gosto de perfumes que marquem território, que contagiem o ambiente ou que passem para nossa pele quando cumprimentamos alguém. Gosto de perfumes suaves, aromas sutis e que não violentem o olfato.

Perfumes & etc- Para finalizar, como você vê o futuro do circuito nacional de perfumaria e moda - tanto em termos literários (blogs, livros), quanto no setor industrial?
Marco Sabino - Sou o curador da exposição que contará a História do Perfume como parte das comemorações do ano França-Brasil que tem início no dia 21 de abril. A exposição acontecerá no Shopping Leblon* e será um grande evento. Tenho pesquisado muito e lido bastante. O assunto é fascinante, embora ache que perfumistas extrapolem um pouco na imaginação e palavras ao explicar suas criações. Acho que ainda há muito espaço para publicações sobre o assunto, inclusive trabalhos que resgatem a relação do povo brasileiro com o perfume.


* Shopping Leblon - Av. Afrânio de Melo Franco, 290, Leblon – CEP: 22430-060 – Rio de Janeiro – RJ

Ilustrações ~ ao alto - Marco Sabino
~ primeira à direita -
Dicionário da Moda / Autor: Marco Sabino / Editora: Campus
~ à esquerda - colagem de Marco Sabino
~ segunda à direita - colagem de Marco Sabino
- Todas as ilustrações foram usadas com a autorização de Marco Sabino. Reprodução proibida.



23 de março de 2009

Penhaligon's



Penhaligon's


No final do ano 1860, o jovem barbeiro William Henry Penhaligon decidiu deixar sua cidade natal, Penzance, e mudar-se para Londres. Sua barbearia conheceu enorme sucesso, e William começou a fabricar loções e produtos de barbear. O êxito foi tanto, que, pouco mais de uma uma década passada, Penhaligon fornecia boa parte da aristocracia com suas pomadas, eaux-de-toilette e perfumes.

Sua primeira fragrância foi criada em 1872, e batizada Hamman Bouquet, em referência aos banhos turcos dos quais foi inspirada, permanecendo a favorita pessoal de seu criador. William, com clientela estabelecida, passou a dedicar-lhe fragrâncias. Assim, Blenheim Bouquet, criada para o Duke of Marlborough, acabou sendo uma das prediletas de Winston Churchill. Naquela época, os aromas masculinos eram florais ricos, e Blenheim Bouquet foi um dos primeiros cítricos - verdadeira revolução!

No final do reinado (de Junho de 1837 a Janeiro 1901) da rainha Victoria, William Henry foi nomeado barbeiro e perfumista oficial da corte. A maison Penhaligon's foi igualmente condecorada pela rainha Alexandra em 1903, pelo Duque de Edinburgh, em 1956, e pelo príncipe de Gales, em 1988.

A empresa, que contou com inúmeros nomes famosos na sua lista de clientes, passou por momentos difíceis após o crash de 1929, interrompendo momentaneamente suas atividades nos anos 40. O que sobrou foi destruído pela II Grande Guerra.

No início dos anos 70, a estilista Sheila Pickles restabeleceu o comércio, armada de um livro contendo as receitas originais das fragrâncias, além de uma caixa repleta de antigas embalagens e etiquetas.

Com a ajuda do diretor de cinema italiano Franco Zeffirelli, Sheila ressuscitou a marca, abrindo a primeira loja, em Covent Graden, no ano de 1975. Outras lojas nasceram, como a de Burlington Arcade (em Londres), as filiais de Glasgow, Edinburgh, Windsor e Chester (na Grã-Bretanha), afora as boutiques de San Francisco, da Madison Avenue, o ponto de venda, na Saks Fifth Avenue de New York (nos Estados Unidos), somando-se ao espaço de Hong Kong, na China.

Desde janeiro de 2002, Penhaligon's pertence ao grupo americano Cradle Holdings, que também dirige Erno Laszlo e a marca francesa L'Artisan Parfumeur.

Atualmente, Penhaligon's dispõe de novas fórmulas e fragrâncias, adaptadas aos tempos modernos, permanecendo, porém, fiel às características e ao eterno compromisso com a qualidade.

Falaremos bastante das criações de Penhaligon's no Perfumes & Etc, e espero que vocês apreciem mergulhar nesse mundo historicamente rico e perfumisticamente fascinante.



Sugestões de Leitura


The Language of Flores, de Sheila Pickles
Publicação: Dezembro de 1989
Editora: Harmony/ Random House Inc.

O quarto e, na minha opinião, mais encantador tomo da coleção Sheila Pickles/Penhaligon's. Uma maravilhosa obra para todos aqueles apaixonados por jardinagem, flores e gravuras Vitorianas. Esses últimos, serão verdadeiramente mimados, pois no livro constam diversas ilustrações da época. Cada flor é acompanhada de sua devida ilustração, verbete, e belas narrações de fatos corriqueiros. Citações, ditos, e poesia (William Shakespeare, Thomas Moore, Robert Burns, Henry Wadsworth Longfellow...), além do significado e linguagem de algumas flores como o jacinto, o cravo, a margarida, o jasmim, o lírio, a orquídea e a rosa. Imperdível!


Victorian London: The Life of a City 1840-1870, de Liza Picard
Publicação: 2006
Editora: St. Martin's Press

Esse livro retrata com paixão a vida quotidiana e realidades do dia-a-dia, na Londres da metade do período Vitoriano. Todos os esplendores e misérias da época são magistralmente narrados.

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Ilustrações ~ primeira à direita - William Henry Penhaligon
~ à esquerda - "The Language of Flowers", de Sheila Pickels
~ segunda à direita - "Victorian London: The Life of a City - 1840-1870", de Liza Picard



20 de março de 2009

Green Irish Tweed


Green Irish Tweed


Green Irish Tweed foi lançado pela maison Creed em 1985, como uma homenagem ao ator americano, de origem britânica, Cary Grant.

As notas de limão associadas à verbena trazem o frescor inicial, que é suavizado pela presença da íris e das folhas de violeta. O fundo amadeirado de âmbar e sândalo impõe um certo conforto, esquentando o conjunto, porém permanecendo discreto. O poder de fixação é excelente, continuando por mais de 6 horas.

Todo o charme da fragrância repousa na perfeita harmonia entre o frescor inicial e a fase do meio, floral e suave. O resultado é uma aura de masculinidade acessível e não agressiva. E, na minha opinião, essa é a chave do sucesso dessa eau-de-parfum (disponível em versão Millésime), que é um dos atuais best-sellers de Creed.

Eu já ouvi diversas comparações a Cool Water, e, apesar de apreciar a eau-de-toilette de Davidoff, devo discordar dos paralelos entre as duas fragrâncias. Cool Water tem uma conotação agradável, entretanto, sintética. A nota de sândalo ao fundo difere completamente da presente em Green Irish Tweed, que é o sândalo de Mysore (região de Karnataka, na Índia), considerado de melhor qualidade (o que faz uma grande diferença, creiam-me!). A versão masculina de Cool Water gira em torno da lavanda na abertura, enquanto um dos componentes principais de Green Irish Tweed é a íris. Cool Water é bem mais esportivo e aquático, enquanto Green Irish Tweed é um floral verde amadeirado, sóbrio e elegante.

Green Irish Tweed foi supostamente usado pelas figuras masculinas mais variadas - dos sedutores George Clooney, Robert Redford, Pierce Brosnan e Richard Gere; passando pelos másculos Russell Crowe e Clint Eastwood; os talentosos Robbie Williams e Quincy Jones; chegando mesmo ao excêntrico Ozzy Osborne, e ao "très royal" Príncipe Charles, recentemente nomeado "o homem mais bem vestido do mundo"*.

Apesar de ser portada por tantas personalidades proeminentes, e inspirada por um dos homens mais fascinantes do cinema, Cary Grant, eu sempre associei a fragrância ao mais famoso herói de Jane Austen, Fitzwilliam Darcy. Toda a noção de valores, ligada a uma virilidade afirmada e estável, e uma determinada aura de distinção e proteção - características do personagem masculino principal de Orgulho e Preconceito - estão presentes aqui. Trazendo Austen a um contexto mais atual, creio que Green Irish Tweed seria a fragrância perfeita para o sobrinho de Lady Catherine de Bourgh.

Essa fascinante criação de Creed parece ter o poder de transportar-me ao bucólico condado de Derbyshire, e a Pemberley, residência de Mr. Darcy. Sim, Green Irish Tweed inspira-me uma semelhante noção de masculinidade. E que mulher não sucumbiria a tal apelo?


* Em março de 2009, a revista britânica Esquire nomeou o Príncipe Charles, da Grã-Bretanha, como o homem mais bem vestido do mundo, vencendo o atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama

Ilustrações ~ primeira à direita - Darcy snubs Elizabeth - de Pride and Prejucice Hypertex
~ à esquerda - Matthew Macfadyen, como Fitzwilliam Darcy, no filme Pride and Prejudice, de 2005
~ segunda à direita - Chatsworth House, a inspiração original para Pemberley, foi usada para a filmagem das cenas exteriores do filme de Joe Wright, Pride and Prejudice (2005)




16 de março de 2009

Coeur d'été


Coeur d'été


O verão está quase dizendo adeus ao Hemisfério Sul, que prepara-se para a entrada do outono, enquanto o Hemisfério Norte anda ansioso por acolher a primavera. Sendo assim, eu escolhi o perfume perfeito para esse período de transição. Leve o suficiente para o iminente fim de verão ao sul, e suave e intimista para receber devidamente a primavera, ao norte.

Coeur d'été foi criado durante os primeiros estágios de gravidez de Lyn Harris, que então não podia suportar os aromas fortes e invasivos. Lançada em 2006, essa eau-de-parfum, consta na minha lista de produtos prediletos de Miller Harris.

As notas oficiais de abertura são: grãos de cacau, alcaçuz, limão, pamplemousse e tangerina. O coração é composto de banana, pêra branca, lilás e cássia, num fundo de heliotrópio, sândalo, benjoim, baunilha e almíscar. Lendo o descritivo das notas, tem-se a impressão de que os componentes de Coeur d'éte são o resultado de algum desejo louco e incoerente de mulher grávida. No entanto, para grande surpresa, o resultado é extremamente harmônico e envolvente.

As notas mais sentidas na abertura são as cítricas, ou seja, o limão, a tangerina, e a pamplemousse. Alguns segundos após , a pêra pode ser detectada, quase imediatamente seguida pela grande estrela da fragrância, o lilás. Uma leve nota doce e "quente" faz sua aparição, e constatei que a nota, a princípio
indeterminada, nada mais era do que a banana. Entretanto, a banana foi tão belamente centrada, que não imprime o caráter tropical da fruta, impondo somente um certo calor, e servindo de elemento de harmonia. Conclusão: a banana aqui não cheira a banana (rsrsrs), e é seguida pelo heliotrópio por uns dez minutos apenas.

Confesso que fui incapaz de sentir as notas de grãos de cacao, e, se tivesse que resumir a descrição da fragrância em algumas palavras, diria: uma bela composição de lilás, acolhedora e convidativa.

Coeur d'été é muito mais alegre que outros lilases, igualmente belos, porém mais "frios", como En Passant (Olivia Giacobetti para Editions de Parfums Frédéric Malle), ou o descontinuado Sha (de Alfred Sung), sendo perfeitamente adequado para as mais diversas ocasiões. O poder de fixação foi de 5 horas, na minha pele, e o efeito sillage é de curta distância (a fragrância fica perto de quem a porta), não invadindo o espaço alheio.

Meus parabéns a Lyn Harris, que provou que a gravidez pode gerar beleza, tanto no aspecto humano, como no lado perfumístico!


Ilustrações ~ à direita - "Wheatstacks (End of Summer)" (1890-1891), de Claude Monet
~ à esquerda - "Pregnant Birth Goddess" (2003), de Barbara Getrost



9 de março de 2009

Lady Shiloh



Lady Shiloh


"O Grupo" é um romance da escritora americana Mary McCarthy (1912-1989), que retrata o percurso de oito jovens, graduadas pelo prestigioso e elitizado Vassar College, localizado em Poughkeepsie, New York, no ano de 1933.

O livro começa com o casamento de Kay, e narra o caminho de cada um dos personagens, até 1940. Helena, Pokey, Dottie, Kay, Libby, Polly, Priss e Lakey têm personalidades distintas, e trajetos de vida diversos. Da esteta Lakey à gentil Polly, passando por Kay, o espírito livre, todas, apesar de suas diferenças, conservam a característica comum de ex-alunas de Vassar - um clima de elegância vestal, proveniente do meio privilegiado em que circulam.

Lady Shiloh, de Hors Là Monde, capta exatamente esse ambiente um pouco retrô e bem-educado. A bergamota e a mandarina abrem a sinfonia, e a entrada fresca é imediatamente seguida pelo jasmim das Índias, contrabalançando o caráter frutal do início. A violeta chega depois, e é, na minha opinião, a nota que impõe uma aura de poesia e romantismo ao conjunto. As notas de patchuli e almíscar branco servem de pano de fundo, e não tardam a dar o ar de sua presença, aquecendo a fragrância. O vetiver imprime uma determinada seriedade, refreando qualquer excesso de emoção que a fragrância pudesse transmitir.

O resultado é um certo romantismo controlado. Nada de explosões sensuais, de humores exacerbados, ou de sentimentalismo lacrimoso. Lady Shiloh é uma fragrância delicada, mas sóbria. Sensível, mas não emotiva. Polida, porém não necessariamente fria. Espirituosa, mas não efusiva.

A característica principal da narrativa de Mary McCarthy é a descrição detalhada, misturada a um estilo atemporal. Em "O Grupo", o leitor é transportado aos Estados Unidos dos anos 30, e pode quase visualizar os cenários percorridos pelos personagens. Outra característica do livro, é a capacidade de colocar o leitor masculino numa posição de voyeur involuntário - Mais um traço de ligação com essa eau-de-parfum, que traduz um universo puramente feminino, ao contrário de sua antecessora, a andrógina Shiloh.

Lady Shiloh poderia ser usada por qualquer um dos oito personagens principais de "O Grupo". A fragrância condiz com uma espécie de mística feminina, que gira em torno de boas-maneiras, subtilidade, e uma faceta convencional, que nos remete a 1933, e a Vassar.


Ilustrações ~ à direita - "Vassar student walking across campus in saddle shoes and flowing raincoat" - foto de Alfred Eisenstaedt (1937)
~ à esquerda - "The Group" - livro de Mary McCarthy - Editora: Harvest Books - 1991




6 de março de 2009

Cores, Aromas e Humores


Cores, Aromas & Humores



Autora Convidada - Elisabeth Casagrande*



Laranja


Descascar uma laranja, ato simples que produz efeito imediato em vários pontos do organismo , reduzindo a ansiedade e a pressão sanguínea.

Este odor, vivaz, picante e fresco aliado à cor vibrante e energética abranda os pensamentos tristes, ilumina o espírito e beneficia a circulação.
É o que basta para uma sensação de bem estar, de disposição, para enfrentar um dia cheio de afazeres, levando a paz sobre a pele, com um sorriso no rosto.
Suas cores que vão do amarelo suave ao quase laranja funcionam como revitalizadores do corpo e estimuladores da atividade psíquica , auxiliando a mente à assimilar novas idéias.

Na sua expressão mais intensa, alaranjada, reúne as qualidades do vermelho e amarelo. Representa a gentileza, prosperidade e afujenta a preguiça. Atrai boa sorte e tem um dia todo seu: Quarta-feira, enquanto o amarelo reina aos domingos.

No Feng Shui estas tonalidades cintilantes são usada em áreas que devem propiciar a criatividade, comunicação, estimulando os sentidos.

Cítricos de maneira geral criam uma atmosfera alegra e descontraída, aliviando tensões, stress e irritabilidade. Também atuam como relaxante da musculatura, propiciam boa digestão.

Laranja já foi chamada a “maçã dourada das hespérides , tornou-se artigo de luxo nas cortes européias, presente de Zeus à sua noiva Hera e provou ser a preferida das crianças em sessões de aromaterapia . Como negar a sabedoria instintiva dos pequenos ?

Leve junto este aroma encantador de cítricos, laranjas, tangerinas e mandarinas; desfrute a alegria do bem viver refletida nas suas cores luminosas.
No conhecimento Holístico cores tem suas complementares e no violeta , a laranja encontra a sua.

Laranjas deliciosas, suaves ou intensas sentimos em Happy da Clinique, Orange Tonic edt by Loris Azzaro, Funny by Moschino, Terre d’Hermes, Eau d’Orange vert by Hermes .



Ilustrações ~ à direita - Orange Branch Bearing Fruit, de Claude Monet (1884)
~ à esquerda - Happy, eau-de-toilette de Clinique




Violeta


Dormir entre lençóis delicadamente perfumados com alfazema ou lavanda (Lavandula officinalis ) convida ao relaxamento de noites bem dormidas, ao prazer da sensação de limpeza e frescor.

Nesta rotina atribulada que vivemos parece um sonho voltar para um recanto com tal aroma, que terá seu efeito potencializado se, a deliciosa cor violeta for acrescida em pequenas ou generosas doses.

Cromoterapia, técnica que vem do Antigo Egito, presente nos fundamentos da Medicina Chinesa e Indiana, afirma que violeta é cor sedativa dos nervos motores e sistema linfático, cauterizadora das infecções e inflamações, utilizada no tratamento da incontinência urinária e psicoses.
Enquanto lavanda é uma essência yang, violeta é cor metafísica, da alquimia e da magia, vista como representante da energia cósmica e da inspiração espiritual.

Um devaneio que nos leva para a espiritualidade e purificação. Seu efeito transforma as energias negativas em positivas, acalma o coração, a mente e os nervos.

Esta bela cor em várias tonalidades é usada no Feng Shui para induzir a tranqüilidade , sossego e calma. Como estimula a espiritualidade, deve ser aplicada nos locais destinados à meditação e recolhimento.


Ilustração - "The Violet" (Viola), de Mary E. Eaton


Lavanda



O aroma da lavanda é um dos mais versáteis agindo como tranqüilizante, analgésico, regulador cardíaco, antisséptico, antiespasmódico, diurético, desodorante e hipotensor. Como é versátil este óleo essencial !

E, que fragrância agradável e relaxante nos proporciona. Obtido por destilação a vapor das coloridas flores, folhas e caules de Lavandula officinalis, apresenta composição rica em linalol e acetato de linalina.

Conhecido desde a Antiguidade, o nome que vem do latim “ lavare”, e significa lavar, reflete sua característica de pureza e bem estar.
Usada na perfumaria, para desodorizar ambientes e roupas, já era empregada no Império Romano devido a fragrância agradável e as propriedades curativas.

Usemos, pois quando o assunto é perfumar-se, devemos em Roma fazer como os romanos e no resto do mundo também. É a cor de Júpiter , para ser usada na quinta- feira.

Inúmeros perfumes levam a lavanda na sua composição, principalmente os masculinos. Alguns tem seu fragrante aroma mais evidente . Noutros aparece como coadjuvante. Experimente: English Lavender Yardley, Caron Pour Un Homme, Agua Lavanda Puig, 1881 by Cerruti, Aqua di Parma, Aqua Allegoria Lavande Velours Guerlain ,Bouquet Imperiale by Roger Gaillet, Covet by Sarah Jéssica Parker , Pure Lavender by Azzaro, BLV by Bvlgari, Lavanda Johnson’s.
Certamente num destes encontrará a concentração ideal para o seu prazer.



Dicas e Artigos:

- Para Cromoterapia
- Para Feng Shui
- Para Yang
- Para Linalol


Ilustrações ~ à direita - Lavanda
~ à esquerda - Publicidade de
Yardley Lavander, do ano de 1929




*Sobre a autora - Elisabeth Casagrande é Bióloga e Bioquímica de formação, e atualmente professora de Microbiologia no ensino universitário. Porém, mais que isso - Elisabeth Casagrande é uma pessoa iluminada e cheia de talento. Toda a criatividade, conhecimento e maravilhoso estilo literário de Elisabeth podem ser conferidos no seu blog, Perfumes Bighouse - uma recomendação especial para aqueles que desejam enriquecer seu dia com uma leitura perfumada.


"Acredito na essencial unidade do homem, e, portanto na unidade de tudo o que vive. Por conseguinte, se um homem progredir espiritualmente, o mundo inteiro progride com ele, e se um homem cai, o mundo inteiro cai em igual medida."

Mahatma Ghandi


Leitura Indicada:

- Princípios de Vida
Autor: Mahatma Ghandi
Editora:Nova Era / 1993


2 de março de 2009

Diorissimo


Diorissimo


No dia 29 de julho de 1981, a Catedral de St. Paul, em Londres, foi o cenário da união entre o herdeiro do trono da Grã-Bretanha, e da jovem e magnífica lady Diana Spencer.

Em 1981, eu era uma pré-adolescente tímida e sonhadora, que devorava os romances de Jane Austen e lia toneladas de poemas, dos mais diversos autores. Como noventa por cento das meninas da época, eu também sucumbi ao fenômeno Diana. Meu senso de romantismo juvenil foi completamente envolto pelo conto-de-fadas do que deveria ter sido o "casamento do século".

Fui ao cabeleireiro, levando uma foto de Diana, e pedi uma reprodução do corte da rougissante princesa, somente para constatar depois que quase todas as minhas colegas tinham feito a mesma coisa. Também comecei a ler tudo o que podia sobre meu novo ídolo juvenil, e descobri que Diana havia usado Diorissimo no dia do seu casamento, e a fragrância era uma de suas prediletas.

Eu nunca tinha ouvido falar de Diorissimo até então, mas o nome tornou-se uma obsessão. Após alguns meses, consegui sentir o aroma do meu novo objeto de desejo. O amor foi instantâneo, e eu genuinamente apaixonei-me pela fragrância. Sinto desapontar aos que tiveram sua paixão pelo mundo dos aromas despertado por tópicos mais sérios, mas meu début perfumístico começou na pré-adolescência, graças à Diana-mania.

Diorissimo foi criado em 1956, por Edmond Roudnitska (1905-1996) para a maison Dior, e foi a décima-primeira* fragrância elaborada pelo perfumista para comercialização. Sua criação foi feita num espírito revolucionário. Em reação às notas químicas que apareciam na época, os perfumistas começaram a incorporar quantidades de notas frutais e de baunilha, a fim de contrabalançar o caráter rascante e acre desses elementos, resultando em fragrâncias doces. Revoltando-se contra essa tendência, Roudnitska desenvolveu notas mais leves, frescas, com características olfativas mais fluidas. Diorissimo é um dos resultados dessa "rebelião perfumística".

O lírio-do-vale, flor predileta de Roudnitska, que nutria um grande amor por flores e plantas, foi a grande estrela da fragrância. Uma nota verde de bergamota faz sua entrada, imediatamente seguida pela nota principal, o lírio-do-vale. O lilás aparece pouco depois, impondo-se como co-estrela e segunda nota perceptível. O ylang-ylang, a rosa e o jasmim estão presentes, atuando, porém, como co-adjuvantes, e o sândalo, cuja presença é pouco sentida, serve de base. Na minha opinião, Diorissimo é uma obra-prima em matéria de lírio-do-vale, e o perfeito equilíbrio do lilás, adiciona uma aura particular de romantismo e suavidade, difícil de ser reproduzida ou copiada.

Eu não sou mais uma pré-adolescente, e boa parte da minha ingenuidade perdeu-se com o tempo. Hoje em dia, creio que o "casamento do século" não me fascinaria com a mesma intensidade. Devo confessar, entretanto, que sempre guardarei um lugar especial para a "Queen of Hearts" (1961-1997) no meu coração. Diorissimo foi usado por várias outras personalidades notáveis, mas associarei sempre o aroma da fragrância a jovem Diana Spencer, de apenas 20 anos, e que, como eu, talvez acreditasse ainda em contos-de-fada.

Em seu livro, "Le Parfum"*, Edmond Roudnitska declarou que "um belo perfume é aquele capaz de satisfazer a beleza, em todas as suas formas. Um belo perfume é aquele que nos proporciona um choque - um choque sensorial, seguido de um choque olfativo. Um belo perfume é uma composição de proporções alegres e forma original"*. Definitivamente, Diorissimo é um belo perfume!


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* Fragrâncias anteriores a Diorissimo - It's You (1939, para Elizabeth Arden), Femme (1944), Mousseline (1946), Mouche (1947), Moustache (1948-para Rochas), Diorama (1948-para Dior), La Rose (1949-para Rochas), Eau d'Hermès (1951-para Hermès), On dit (1952-para Elizabeth Arden), Eau Fraîche (1955-para Dior)

* Citação de Edmond Roudnitska - "Un beau parfum est celui susceptible de satisfaire des personnes sensibles à la Beauté sous toutes ses formes. Un beau parfum est celui qui nous procure un "choc", un choc sensoriel suivi d’un choc psychologique. Un beau parfum est une composition dont les proportions sont heureuses et la forme originales " - do Livro "Le Parfum"

Ilustrações ~ à direita - Casamento do Príncipe Charles e Lady Diana Spencer
~ à esquerda - Livro "Le Parfum" - autor: Edmond Roudnitska - Editora: Presses Universitaires de France, edição de 1980
~ segunda à direita - imagem de publicidade de Diorissimo - ano 1968 (fonte: memory-pub.com)



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