
Magnolia Nobile
Poucas são as marcas que conseguem imprimir uma coerência olfativa, mantendo a diferenciação de estilos de suas criações. Acqua di Parma é uma delas. Da distinção clássica e andrógina de Colonia, a feminilidade tórrida de Profumo, passando pela elegância de Iris Nobil

Acqua di Parma também é uma das raras marcas que despertavam-me a vontade de adicionar a integridade de seus lançamentos à minha coleção. Sendo assim, o amigo leitor pode calcular a animação com que fui testar o novo bebê da maison milanesa.
Magnolia Nobile foi desenvolvida por Antoine Maisondieu, o "pai" de Paul Smith Rose, Giorgio Armani Code masculino, e boa parte das fragrâncias de Etat Libre d'Orange. Como diz o nome, o nouveau née de Acqua di Parma é centrado na magnólia, flor que representa dignidade e perseverança.
A equação onde toda a mítica de Acqua di Parma era somada ao talento de Antoine Maisondieu e a riqueza da magnólia, indicava a garantia de sucesso absoluto. E qual não foi a minha decepção ao ver que a objetividade matemática não condiz com a subjetividade do mundo dos aromas.
A abertura de Magnolia Nobile é definitivamente cítrica, com a bergamota e o limão brigando pelo lugar de honra. A magnólia insinua-se ao fundo, tímida e humilde, perdendo toda a exuberância em prol das notas cítricas. Cada um dos componentes é privado de suas melhores características nesta fase. O limão e a bergamota não transmitem uma faceta fresca e limpa, e a magnólia não brilha pelo aspecto cremoso e envolvente. Ao contrário, a abertura é genérica e insossa, lembrando-me algo que poderia ser uma edição variante de Pleasures, de Estée Lauder.

A rosa chega aos poucos, e, ao menos no segundo ato, Antoine Maisondieu merece aplausos por fazer com que duas flores poderosas atuem como simples atrizes coadjuvantes. A rosa serve de perfeito suporte a magnólia, auxiliada pelo jasmim. A presença de ambas é pouco sentida, fazendo sobressair uma certa opulência, e minimizando a aura ordinária do início. Um quase imperceptível toque de baunilha "esquenta" o conjunto, como que tentando reproduzir a bela união floral/baunilha, vista em Iris Nobile. Enfim, a magnólia reina.
Entretanto, esta fase dura pouco, e um retrocesso faz-se notar. O vetiver entra bruscamente e toda a magia é quebrada pelo aroma cítrico e rascante. Tive então a nítida impressão de regressar ao primeiro estágio da fragrância, que voltou a ser genérica e absurdamente comum.
Toda a experiência durou exatas duas horas, tempo de permanência da eau de parfum na minha pele. Graças a um generoso decant, pude repeti-la 4 vezes (7 sprays cada), obtendo sempre o mesmo resultado. Contudo, talvez o fraco poder de fixação tenha sido algo positivo. Afinal, nada é mais enfadonho do que perseverar em uma decepção.
Ilustrações ~ à direita - cartão postal vintage
~ à esquerda - Hark! A Vagrant, de Kate Beaton
