2 de março de 2009

Diorissimo


Diorissimo


No dia 29 de julho de 1981, a Catedral de St. Paul, em Londres, foi o cenário da união entre o herdeiro do trono da Grã-Bretanha, e da jovem e magnífica lady Diana Spencer.

Em 1981, eu era uma pré-adolescente tímida e sonhadora, que devorava os romances de Jane Austen e lia toneladas de poemas, dos mais diversos autores. Como noventa por cento das meninas da época, eu também sucumbi ao fenômeno Diana. Meu senso de romantismo juvenil foi completamente envolto pelo conto-de-fadas do que deveria ter sido o "casamento do século".

Fui ao cabeleireiro, levando uma foto de Diana, e pedi uma reprodução do corte da rougissante princesa, somente para constatar depois que quase todas as minhas colegas tinham feito a mesma coisa. Também comecei a ler tudo o que podia sobre meu novo ídolo juvenil, e descobri que Diana havia usado Diorissimo no dia do seu casamento, e a fragrância era uma de suas prediletas.

Eu nunca tinha ouvido falar de Diorissimo até então, mas o nome tornou-se uma obsessão. Após alguns meses, consegui sentir o aroma do meu novo objeto de desejo. O amor foi instantâneo, e eu genuinamente apaixonei-me pela fragrância. Sinto desapontar aos que tiveram sua paixão pelo mundo dos aromas despertado por tópicos mais sérios, mas meu début perfumístico começou na pré-adolescência, graças à Diana-mania.

Diorissimo foi criado em 1956, por Edmond Roudnitska (1905-1996) para a maison Dior, e foi a décima-primeira* fragrância elaborada pelo perfumista para comercialização. Sua criação foi feita num espírito revolucionário. Em reação às notas químicas que apareciam na época, os perfumistas começaram a incorporar quantidades de notas frutais e de baunilha, a fim de contrabalançar o caráter rascante e acre desses elementos, resultando em fragrâncias doces. Revoltando-se contra essa tendência, Roudnitska desenvolveu notas mais leves, frescas, com características olfativas mais fluidas. Diorissimo é um dos resultados dessa "rebelião perfumística".

O lírio-do-vale, flor predileta de Roudnitska, que nutria um grande amor por flores e plantas, foi a grande estrela da fragrância. Uma nota verde de bergamota faz sua entrada, imediatamente seguida pela nota principal, o lírio-do-vale. O lilás aparece pouco depois, impondo-se como co-estrela e segunda nota perceptível. O ylang-ylang, a rosa e o jasmim estão presentes, atuando, porém, como co-adjuvantes, e o sândalo, cuja presença é pouco sentida, serve de base. Na minha opinião, Diorissimo é uma obra-prima em matéria de lírio-do-vale, e o perfeito equilíbrio do lilás, adiciona uma aura particular de romantismo e suavidade, difícil de ser reproduzida ou copiada.

Eu não sou mais uma pré-adolescente, e boa parte da minha ingenuidade perdeu-se com o tempo. Hoje em dia, creio que o "casamento do século" não me fascinaria com a mesma intensidade. Devo confessar, entretanto, que sempre guardarei um lugar especial para a "Queen of Hearts" (1961-1997) no meu coração. Diorissimo foi usado por várias outras personalidades notáveis, mas associarei sempre o aroma da fragrância a jovem Diana Spencer, de apenas 20 anos, e que, como eu, talvez acreditasse ainda em contos-de-fada.

Em seu livro, "Le Parfum"*, Edmond Roudnitska declarou que "um belo perfume é aquele capaz de satisfazer a beleza, em todas as suas formas. Um belo perfume é aquele que nos proporciona um choque - um choque sensorial, seguido de um choque olfativo. Um belo perfume é uma composição de proporções alegres e forma original"*. Definitivamente, Diorissimo é um belo perfume!


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* Fragrâncias anteriores a Diorissimo - It's You (1939, para Elizabeth Arden), Femme (1944), Mousseline (1946), Mouche (1947), Moustache (1948-para Rochas), Diorama (1948-para Dior), La Rose (1949-para Rochas), Eau d'Hermès (1951-para Hermès), On dit (1952-para Elizabeth Arden), Eau Fraîche (1955-para Dior)

* Citação de Edmond Roudnitska - "Un beau parfum est celui susceptible de satisfaire des personnes sensibles à la Beauté sous toutes ses formes. Un beau parfum est celui qui nous procure un "choc", un choc sensoriel suivi d’un choc psychologique. Un beau parfum est une composition dont les proportions sont heureuses et la forme originales " - do Livro "Le Parfum"

Ilustrações ~ à direita - Casamento do Príncipe Charles e Lady Diana Spencer
~ à esquerda - Livro "Le Parfum" - autor: Edmond Roudnitska - Editora: Presses Universitaires de France, edição de 1980
~ segunda à direita - imagem de publicidade de Diorissimo - ano 1968 (fonte: memory-pub.com)



4 comentários:

Um pouco mais sobre a autora disse...

oii Gaelle.
Edmond Roudnistka é um nose que desperta simpatia, além da admiração pelos belos perfumes. Sua pessoa sempre rodeada de flores lembra-me a de um botãnico, amante da Natureza, rigorosamente eficiente, exigente e sensível.É imagem idealizada através da obra, mas acredito que teria prazser em conhecê-lo.Dioríssimo combina muito com esta perspectiva. Composição de um perfeccionista. Beleza das flores aliada à sensibilidade do nose.perfeito para a romântica e elegante Lady Di.Beijocas Elisabeth

Gaëlle disse...

Oi Betty!

Também adoraria ter conhecido Edmond Roudnitska. Mais que isso - adoraria que ele tivesse elaborado um perfume para meu uso pessoal e exclusivo (rsrsrs). Concordo que Diorissimo é a fragrância perfeita para a jovem e romântica Diana :0)

Aquele abraço!

Gaelle.

Eudiza Quevedo disse...

O Diorissimo é o perfume de minha infancia, minha mae usou muitíssimo tempo e adoro cheirar de vez em vez só por saudades de outros tempos.

Beijao!

Zá.

Gaëlle disse...

Oi Eudiza!

A sua mãe deve ser uma pessoa de gosto impecável.
Diorissimo foi meu primeiro amor, é ainda é uma de minhas fragrâncias prediletas. Um perfume que consegue unir simplicidade, sofisticação, candura e um certo requinte.
É maravilhoso que tal fragrância evoque momentos felizes! Mais um motivo para tê-la sempre ao nosso alcance, não é? :0)

Mil beijinhos para você!

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